Um "boa noite" especial

Um dia você sente o tal 'chamado da natureza' e percebe que sua vida vai ficar muito mais completa se tiver um filho (no meu caso, uma filha).

Então você se informa sobre os documentos para adoção, passa por um processo angustiante até que seu nome seja incluído na tal 'lista', e daí começa o período que ninguém sabe ao certo quanto tempo vai durar: a espera.

Durante essa espera você se anima, monta o quarto da bebê, vê o tempo passar, assiste todas as amigas mais próximas engravidarem e terem seus filhos, sente ciúmes dessas amigas, desanima, desmonta o quarto, chora, perde a esperança, percebe que amigos querem ajudar e até indicam uma mãe que não poderá cuidar do filho, viaja quatro horas para conhecer essa mãe, depois tudo dá errado, ela desiste de doar o filho, você volta a ficar triste e desanima de novo, pensa em desistir de tudo, entra em depressão, se recupera, fica alegre, fica triste mais uma vez...

Depois de quatro exatos anos desde o primeiro contato com a Vara da Infância, o seu telefone celular toca. No display: "Vara da Infância". Você perde o ar, sai correndo, atende, ouve alguém do outro lado dizendo que existe uma menina com o perfil que você determinou, mas que ela teve um nascimento complicado e que talvez por isso tenha sequelas.

Você pega o carro, sai praticamente voando pra Vara da Infância ("não, psicóloga da Vara, eu não posso aguardar até amanhã. Estou indo me encontrar com você agora") e no caminho liga para as amigas, chora, se agarra nas mãos de Deus, pede a Ele que a criança não tenha nada grave, nada sério...

Chega na Vara da Infância, ouve que talvez ela tenha problemas pulmonares e cardíacos que precisem de atenção especial, mas isso não te impede de querer conhecê-la no dia seguinte.

Quando chega no abrigo, você vê aquela coisinha tão frágil e quase imóvel na cadeirinha, mas com um sorriso enorme. Você não sente aquele "clique" que achou que sentiria quando conhecesse a "sua filha", e isso te desestabiliza.

Pirada de novo, você volta pra casa sem ter a menor ideia do que fazer. Conversa com os amigos. Conversa com a família. Conversa com médicos... e duas semanas depois você decide adotar aquela menina.

E daí começa a transformação - na sua vida e na dela. Você se descobre mais forte (e mais frágil ao mesmo tempo), muda completamente a sua vida, deixa as poucas vaidades que tinha de lado e se entrega completamente a ela.

Ela, por sua vez, começa a desabrochar ali, na sua frente. Primeiro, consegue se sentar sozinha. Depois começa a engatinhar, dali mais um pouco já está andando... e a cada dia você descobre algo novo e deliciosamente lindo nela.

Os problemas de saúde ficaram pra trás, e nesse momento você só consegue pensar no quanto Deus é bom.

Então, numa noite de abril, você avisa a essa criaturinha linda que está na hora de dormir. Ela agarra a perna do avó (que está sentado à mesa, jantando) e diz: "Boa noite, vovô".

A cada instante como esse você tem certeza de que precisava esperar quatro anos para receber o melhor de todos os presentes.

Você sente que entre vocês existe algo tão grandioso, e entende que outra criança não poderia estar ali - somente ela nasceu para ser a "sua Maria".

Nunca vou me cansar de contar essa história, porque sei que em cada vez vou ter algo novo e gostoso pra falar da minha filha... assim como nunca vou deixar de agradecer a Deus pela oportunidade de ser mãe de Maria. 


Obrigada, Senhor. Eu nunca soube que merecia tanto.



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